Uma inteligência artificial com código aberto na América Latina
- Da redação
- 28 de jun.
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Um modelo de inteligência artificial para a América Latina e o Caribe. Este é o projeto que avança em diversos países do Sul Continental a partir da adesão de universidades, bibliotecas, fundações, centros de pesquisa, entidades governamentais e da sociedade civil. O objetivo estratégico não é competir com as big techs da AI, mas criar um modelo próprio da América Latina e do Caribe, capaz de reconhecer e compreender a história e vida dos povos da região com seus dialetos, expressões e marcas culturais seculares.
Lançado pelo governo do Chile, em 2023, sob coordenação do Centro Nacional de Inteligencia Artificial (CENIA), a iniciativa por um modelo de linguagem latinoamericana (LLM), nomeada de Latam-GPT, passa a contar em 2024 com o apoio de entidades de outros países da região (Colômbia, Uruguai, México, Peru, Equador, Argentina e Costa Rica). O Brasil passou a integrar o projeto em abril de 2025, através de um acordo firmado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) com o governo chileno. A expectativa é que uma versão experimental esteja disponível ao público no segundo semestre de 2025.
A base da estrutura tecnológica está sediada na Universidad de Tarapacá (UTA), no norte do Chile. A proposta de criação de tecnologia de dados também de possibilitar o empoderamento de comunidades locais no fortalecimento e defesa das identidades regionais dos povos que vivem e fazem a história da região. E vislumbrar uma tecnologia com código aberto é uma estratégia de inclusão e participação democrática na construção colaborativa do modelo de inteligência artificial. Trata-se de uma “inteligência artificial a serviço das pessoas”, como informa a chamada no site do CENIA.
Diferente dos modelos que operam por código fechado, a proposta é envolver as pessoas diretamente na construção colaborativa, seja por sugestão, ajuda ou indicação de problemas a resolver. A justificativa é do próprio gerente do CENIA, Rodrigo Durán: “isso democratiza o conhecimento e promove o desenvolvimento de capacidades para entender melhor os modelos de linguagem, suas aplicações e limites”. Em outras palavras, o desafio de propor recursos tecnológicos para facilitar a vida das pessoas não pode ficar refém de interesses comerciais de poucos grupos privados, que controlam as informações a partir do telefone de quem paga a conta e hoje sequer consegue controlar os próprios dados pessoais.
A aposta não autoriza a pensar que os países latinos poderiam dispensar as lutas por políticas públicas para responsabilizar as big techs pelos incontáveis desmandos na descontrolada comercialização de dados de bilhões de pessoas em todo o planeta. O desafio de enfrentar o problema a partir do debate e aprovação de políticas públicas ainda está sob ameaça do controle empresarial e financista no Brasil, mas tudo indica que pode criar um marco pontual a partir da esperada decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que analisa cobranças públicas pela responsabilização das plataformas digitais para conter a violência e a desinformação que imperam na internet e, de forma piorada, nas redes sociais. É o desafio do momento!
Sérgio Gadini é professor na Universidade Estadual de Ponta Grossa, Brasil

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