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Esquerda tem chance de ocupar vazio político

  • Foto do escritor: Luís Fernando Assunção
    Luís Fernando Assunção
  • 16 de mar.
  • 4 min de leitura

A esquerda portuguesa tem uma oportunidade única para regressar ao poder e conter o avanço da extrema-direita no País, ocupando o vácuo político com a queda do último governo. A derrocada do conservador Luís Montenegro por conflito de interesses na condução da governança teve um papel decisivo da esquerda e da própria extrema-direita, quando a moção de confiança foi derrubada e abriu caminho para novas eleições em maio.


Agora, é o Partido Socialista que reúne melhores chances de vitória. O PSD de Montenegro estará marcado por esse escândalo recente e a extrema-direita ainda precisa explicar para a sociedade diversos incidentes com seus partidários, que de alguma forma atingiu a imagem “imaculada” do partido e de André Ventura.


A crise de Montenegro e o desgaste do Chega deixam um vazio político que promete ser ocupado pela esquerda. Não apenas o PS reúne condições de crescimento como também o Bloco de Esquerda, o Livre e o Partido Comunista Português, que podem surfar na onda dos escândalos. A corrida aos votos já começou e deverá ser polarizada entre Montenegro e o candidato socialista Pedro Nuno Santos.


A falha na articulação política dos conservadores foi clara quando a moção de confiança foi derrubada.  A Aliança Democrática (AD) tinha o maior número de deputados, mas não maioria absoluta no parlamento, o que a obrigava a fazer acordos com outros partidos. Os acordos não foram suficientes.  Montenegro ficou no comando por 344 dias, mas foi abalado quando se descobriu que a Spinumviva, empresa de sua família, recebia pagamentos mensais por consultoria e proteção de dados de uma empresa de casino que, curiosamente, teria sua concessão vencida no próximo ano. A situação configurou-se como um claro conflito de interesses.


Montenegro sempre foi discreto na atuação política. Mas há um ano os holofotes voltaram-se para ele e, agora, o escrutínio ficou insustentável. Bom dizer que ele não resistiu ao ter a vida devassada pelos media. Mostrou-se vulnerável politicamente e pouco capaz de explicar de maneira coerente os deslizes que apareceram.  A polémica fez com que a sua vida fosse passada a pente fino e as contas dissecadas, especialmente na área em causa, o imobiliário, com as duas casas que Luís Montenegro comprou, em 2024,  em Lisboa, a receberam redobrada atenção, como parte importante do vasto património imobiliário do clã do qual fazem parte cinco prédios urbanos e 49 rústicos.


Segundo o site Flash.pt os apartamentos terão custado mais de 700 mil euros, e após a compra, foram para obras de remodelação totais, sendo que a ideia era uni-los para a criação de um duplex, que funcionaria como uma espécie de quartel-general da família em Lisboa, depois de a mulher ter deixado a vida em Espinho para acompanhar o marido no cargo de primeiro-ministro. Enquanto a remodelação se encontrava a decorrer, e uma vez que o político já tinha feito saber que não iria reivindicar a residência oficial em São Bento, instalou-se no Hotel Epic Sana, em Lisboa, onde a diária ronda os 400 euros. Entretanto, e depois da notícia vir a público, Luís Montenegro trocou o conforto do hotel pela residência oficial do primeiro-ministro, no Palácio de São Bento. Idas e vindas muito mal explicadas, ressalta-se.


Outro que precisa explicar-se  é o partido de extrema-direita Chega. Com pautas de moralidade e de combate à corrupção, o partido parece não estar aplicando na prática o seu discurso que costuma vender à sociedade portuguesa. Recentemente, uma série de escândalos atingiram dirigentes importantes do partido. O último atingido foi o dirigente Nuno Pardal Ribeiro, conselheiro nacional do partido e deputado municipal em Lisboa, acusado de prostituição de menores pelo Ministério Público. Já o deputado Miguel Arruda foi detido por furtos de malas em aeroportos de Lisboa e Ponta Delgada.


O líder do Chega, André Ventura, foi condenado por segregação racial em 2021, com sentença transitada em julgado, por chamar "bandidos" aos membros da família Coxi, do Bairro da Jamaica. Foi ainda alvo de duas queixas por difamação e está a ser investigado pelo crime de incitamento ao ódio, na sequência de declarações sobre o caso da morte de Odair Moniz, o cidadão cabo-verdiano morto por um agente da PSP.


Também o líder parlamentar do Chega, Pedro Pinto, está a ser acusado de ter agredido um árbitro de 18 anos num torneio infantil de escalões de sub-11 e sub-13, em que também participava a equipa do seu filho, o Futebol Clube do Crato.  O vice-presidente do partido, Pedro Frazão, foi condenado por afirmações falsas sobre Francisco Louçã, ex-coordenador do Bloco de Esquerda. Em 2021, Frazão disse que Louçã "recebeu uma avença do BES", o que é falso, provado pela justiça.


Com uma plataforma de campanha que estará provavelmente ancorada no “telhado de vidro” de seus adversários, a esquerda parece estar caminhando para um bom escrutínio. E pode voltar ao poder depois da saída de António Costa. Resta saber se será com a maioria absoluta ou precisará resgatar outras alianças para permanecer no poder depois das eleições, como aquela velha geringonça, quando dividiu a condução do governo com o Bloco de Esquerda. As cartas estão postas à mesa. Que comece o jogo.


Luis Fernando Assunção é jornalista e professor do ensino superior






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