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Denúncias, populismo e economia em queda marcam estratégias discursivas na eleição

  • Foto do escritor: Luís Fernando Assunção
    Luís Fernando Assunção
  • há 5 dias
  • 2 min de leitura

Atualizado: há 4 dias

Os portugueses preparam-se para a terceira eleição em menos de quatro anos e os partidos estão a utilizar estratégias discursivas para abrandar a rejeição às suas atuações. Depois de denúncias que culminaram com a queda do primeiro-ministro, o governo anda às voltas agora com uma prática que, antes, era exclusiva da extrema-direita: ações anti-imigração. O governo anunciou que 18 mil imigrantes serão intimados a deixarem o país. É claramente uma guinada populista da direita moderada, representada por Luis Montenegro, no sentido de retirar votos do Chega, de André Ventura – que, aliás, consolida-se como terceira força política.


A estratégia pró-Montenegro mostrou-se em dois momentos curiosos. Um dia antes do início da campanha, o anúncio do ministro da António Leitão Amaro de que 18 mil pessoas receberão avisos para deixarem Portugal. O outro foi o fato desse anúncio ser precedido da divulgação da queda do PIB em 0,5 no primeiro trimestre, algo inédito nos últimos anos. Seria um desvio de atenção para confundir o eleitor?


O governo Montenegro desintegrou quando veio à tona que a empresa de sua família atua na consultoria de proteção de dados, na compra e venda de imóveis e tem contratos com diversas empresas privadas, entre elas a Solverde, sujeita a concessões estatais. O claro conflito de interesse nem foi negado pelo ex-primeiro-ministro, como se tudo isso fosse correto, e continua permeando parte dos debates com a oposição. A julgar pelas últimas pesquisas, entretanto, o eleitor parece imune às denúncias e negociatas do governo.


O Pedro Nuno Santos centrou suas críticas no escândalo que envolveu Montenegro. Está tentando sensibilizar o eleitor indeciso de que seus anos à frente do governo mostraram um controle da economia, com inflação estagnada e crescimento do PIB. Mas também anda às voltas com uma “averiguação preventiva” do Ministério Público sobre uma denúncia anónima contra Santos, retomada de 2023, sobre a compra de dois imóveis pelo candidato.


E o Chega, como terceira força, tem muito o que explicar ao eleitor português. Não apenas em relação aos ataques contra imigrantes e etnia cigana, além de outras minorias, como também os casos recentes de corrupção que envolveram diversos membros do partido. Ventura parece reforçar esses discursos populistas e extremistas com cariz anti-imigração, antiquestões de géneros e anticiganos, especificamente. Há uma parcela dos portugueses que apoia esse discurso. Apesar de o eleitor do Chega estar cristalizado, houve um ligeiro aumento de simpatizantes para este pleito, como mostram as pesquisas de intenção de voto, mas ainda insuficiente para dar chance ao candidato de alcançar a vitória.


Quase certo nesta eleição é de que o vencedor provavelmente não terá maioria. E buscará nas alianças uma tentativa de composição do novo governo. Se Montenegro se mantiver, ressurge o antigo debate de compor ou não com a extrema-direita. Se os socialistas venceram, o debate se centra na possibilidade de uma aliança com o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista, o que também parece improvável. Resta esperar o dia 18 para saber quem precisará de um poder de argumentação maior para assumir o posto de primeiro-ministro.



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