Charlie Hebdo e o avanço da extrema-direita
- Luís Fernando Assunção
- 14 de jan.
- 2 min de leitura
Atualizado: 24 de jan.
Dez anos depois de o mundo ser abalado pelo ataque terrorista ao jornal francês Charlie Hebdo, poucas lições foram apreendidas. Aliás, quase nenhuma. Cresceu o pensamento conservador, a agenda de extrema-direita deu passos largos e toma boa parte da mídia e das redes sociais e discussões de como dar voz para as minorias pelo mundo parecem ter-se arrefecidos. O atentado contra o jornal satírico francês reacendeu o debate sobre a liberdade de expressão e seus limites, uma pauta que hoje os radicais de direita pelo mundo valorizam para justificar seus atos insanos – e quase sempre desinformativos.
Nada explica ou justifica um bando de gente armada entrar numa redação e assassinar a tiros 12 pessoas, como ocorreu em Paris no trágico 7 de janeiro de 2015. Nada. Mas é importante dizer que o Charlie Hebdo abraçou pautas que os extremistas de direita adoram abraçar em terrenos férteis como a internet. Críticas contra os imigrantes, contra os políticos, contra as mulheres, entre outros temas que costumam costurar a atuação da extrema-direita na Europa. A islamofobia já presente no continente europeu aumentou, e muito, depois dos crimes de 2015.
Quando o Charlie Hebdo deixou de fazer, ou não quis fazer, uma crítica sobre a manipulação da religião no meio islâmico, deixou também de dizer à sociedade de que lado poderia estar. Ao contrário, preferiu fazer um ataque gratuito contra a fé dos muçulmanos. Repetindo: nada justifica o ato de violência praticado contra o jornal. Eles deram suas opiniões. E ninguém deve ser morto por isso. Mas algumas atitudes, e ações, e mesmo a própria liberdade de expressão, podem ultrapassar certos limites, coisa que, sabemos bem, a extrema-direita anda a fazer pelo mundo com suas mentiras e fakes sobre diversos temas.
Em tempos de guerra e genocídios, onde mulheres e crianças estão sendo mortas por drones tecnológicos, é necessário que a mídia internacional tome uma posição. Essa posição deve ser enérgica e ter em conta o bom senso, a humanidade, a empatia. Mas, também, que leve em conta a luta contra os preconceitos contra etnias, géneros, crenças, religião, nacionalidade, orientação sexual e tantos outros, o que também faz muitas vítimas. O papel da mídia, essencialmente, é denunciar os desmandos, ir contra as guerras, desmentir discursos de ódio, e levar para a sociedade informação honesta e de qualidade. Sempre com muita responsabilidade. Talvez isso não mude o pensamento de muitas pessoas, mas certamente será importante para a construção de um mundo melhor.

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