O submundo da rede e a desinformação
- Da redação
- 2 de abr.
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Atualizado: 2 de abr.
Há um submundo da internet que muitas pessoas desconhecem e que mostra a podridão em que esse ambiente se tornou. Através das redes sociais, grupos de supremacistas brancos, ultra-direitistas, racistas, misóginos espalham mentiras e se tornam um ponto de fuga de milhões de usuários, muitos deles crianças e adolescentes. É preciso que a sociedade entenda o que está acontecendo para definir estratégias de confronto com esses grupos, antes que seja tarde demais. No livro Manipulação da Mídia e Desinformação Online, as pesquisadoras Alice Marwick e Becca Lewis descrevem como esse ambiente se forma e como esses grupos atuam. Leia abaixo partes do livro:
“No início de outubro de 2016, o Wikileaks vazou 20 mil e-mails hackeados da conta do Gmail de John Podesta, chefe da campanha de Hilary Clinton. Usuários de um fórum de mensagens da internet chamado 8chan /pol/ - abreviação de politicamente incorreto - imediatamente começaram a vasculhar os e-mails procurando informações que pudessem prejudicar Hillary Clinton. “
“Usando as redes sociais, eles espalharam alegações de que George Soros estava financiando manifestantes liberais para atrapalhar os comícios de Trump, de que uma vasta rede de pedófilos estava agindo em uma pizzaria no Estado de Marylan e de que Clinton tinha a intenção secreta de assassinar Julian Assange. Apesar da natureza falsa e fantasiosa, essas alegações se espalharam pelas redes sociais e para os blogs de extrema-direita e depois para a grande mídia.”
“Nos meses que antecederam a eleição norte-americana de 2016, uma série de grupos subculturais que se organizam online fizeram um esforço conjunto para manipular a atual infraestrutura da mídia e promover mensagens populistas pró-Trump. Essas mensagens se espalharam através partilhamentos em blogs e no Facebook, de bots no Twitter, de canais do YouTube e até mesmo da conta do próprio Trump no Twitter.”
“Essas mensagens foram propagadas por uma imprensa hiperpartidária de extrema-direita enraizada em teorias de conspiração e desinformação. Elas influenciaram as pautas das principais fontes de notícias, como a televisão a cabo, o Washington Post e o New York Times, que cobriram as teorias da conspiração de Clinton mais do que as acusações de assédios sexuais cometidos por Trump e suas ligações com a Rússia.”
“O termo "alt-right (direita alternativa) é um neologismo que coloca tinta fresca em alguns ideais racistas e misóginos tradicionais. Pode ser conveniente usar esse termo para se referir a uma variedade de grupos envolvidos na manipulação da mídia de extrema-direita. Muitos desses segmentos têm sua própria pauta, mas compartilham táticas semelhantes.”
“Além disso, alguns participantes desse ecossistema se organizam de acordo com suas crenças - como os Ativistas dos Direitos dos Homens - enquanto outros se organizam através de meios midiáticos ou plataformas específicas - como blogs individuais ou podcasts. Assim, as fronteiras entres esses grupos são sempre difusas e irregulares.”
“O discurso de ódio atinge pontos sensíveis que as pessoas levam muito a sério, fazendo com que esse seja o tipo de limite moral que usuários do 4chan, por exemplo, tentam ultrapassar. Esse tipo de discurso é, em sua essência, direcionado a minorias raciais, a minorias sexuais e a mulheres, e o 4chan assume que todos são homens brancos até que se prove o contrário. “
“Os usuários do fórum normalmente classificam o uso despreocupado de "b*icha" ou "n*gão" como humor irônico, ou também como uma maneira de manter limites: pessoas ofendidas com tal discurso vão ficar longe de espaços que fazem uso dele, como pretendido. Essa prática também se encaixa ao compromisso extremo com a "liberdade de expressão", bastante ligado ao discurso polarizado contra o politicamente correto.”
“Grupos nacionalistas brancos e supremacistas brancos têm usado a internet na esperança de recrutar novos membros, mas aumentaram a visibilidade com o surgimento da autodenominada "all-right". A machosfera é uma coleção desarticulada de blogs e fóruns dedicados aos Direitos dos Homens, estratégia sexual e misógina. ambos os grupos podem usar táticas e estratégias, como a trolagem, para chamar a atenção às suas causas ou se apresentarem como mais sérios ou acadêmicos.”
Manipulação da Mídia e Desinformação Online
Alice Marwick & Rebecca Lewis
Data & Society Research Institute

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